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domingo, 16 de maio de 2010

Pressão e adversidade: estresse e mercado de trabalho

Pressão e adversidade: estresse e mercado de trabalho


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Angelica Kernchen


Não há dúvidas de que existem inúmeros fatores estressantes no ambiente de trabalho. Seja qual for ele, demandas excessivas, expectativas irreais ou pessoas que simplesmente tornam seu trabalho difícil, a questão é aprender a balancear. Como evitar que as pressões e adversidades, tão normais no dia-a-dia de quem trabalha, afetem seu desempenho, seu comportamento e, pior, sua saúde?

Tudo, de repente, começa a incomodar. O telefone do colega da mesa ao lado, que não para de tocar. O seu próprio telefone, que também não para. Um superior imediato, que não aceita opiniões. Subordinados, que decidiram não colaborar essa semana. Um volume maior de trabalho, que apareceu de última hora. Parece que os outros te colocam expectativas demais, o que te sobrecarrega. Você se sente numa montanha russa: numa hora acha que vai explodir; em outra, se encontra em total apatia.

“A palavra estresse se tornou, infelizmente, comum demais no nosso cotidiano. Estresse é o tipo da palavra que terminou significando todas as coisas: significa pressões, significa demanda, significa emoções, significa tudo... e por isso acaba não querendo dizer muito, pois se tornou tão genérica que perdeu seu valor específico. Porém, na verdade, estresse é qualquer situação que requer a adaptação de uma pessoa. O estresse, então, não é nem bom e nem ruim, ele é simplesmente uma adaptação. É neutro. E dependendo da maneira como essa adaptação é interpretada, ele pode se tornar positivo ou negativo”, define Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-BR - International Estresse Management Association, no Brasil, e dirigente da Clínica de Estresse e Biofeedback, de Porto Alegre.

Num primeiro instante é preciso dizer que sim, o mercado mudou. Mas isso não significa que novos fatores de estresse surgiram. O que os especialistas garantem é que há uma tendência crescente de mais trabalho a ser feito por um número menor de pessoas, e em menos tempo. E para que isso aconteça, o mercado tem demandando mais (ou demais) de seus profissionais. “Hoje, se pressiona mais, se exige mais, se ameaça mais. O fator “ameaça” deve ser levado em consideração na realidade atual, pois antigamente, um profissional não se sentia tão ameaçado de ser demitido. Hoje, o enxugamento das empresas é uma realidade. Então, não acredito que o mercado de trabalho tenha mudado tanto o tipo de pressão, o que aumentou foi a intensidade”, confirma Ana Maria.

“As pressões e dificuldades aumentaram desde que os ventos da globalização econômica começaram a soprar no final dos anos 90, mas como este processo é irreversível, teremos que aprender a conviver com ele”, concorda Ricardo Piovan, autor do livro Resiliência - Como superar pressões e adversidades no trabalho. Piovan fala que grande parte dos fatores que eestresseam os profissionais são gerados por “quebras emocionais”, que são as reações causadas por emoções como o medo, a tristeza e a raiva. “Cada uma destas emoções possui um lado positivo e outro negativo. Por exemplo, o medo: posso ficar com muito medo de participar de uma reunião de diretoria da qual não domino integralmente o assunto, me fazendo ficar calado durante o evento ou não comparecendo. Ou, ver pelo lado positivo do medo, que seria a precaução, onde posso me preparar melhor para a reunião e ampliar minhas competências. O controle emocional é a principal arma para manter a palavra estresse longe do nosso dia a dia”, adiciona.


As consequências do estresse

Que a pressão em demasia no trabalho pode causar diversos problemas físicos, emocionais e comportamentais, já é sabido. Porém, todos esses males podem se manifestar em graus diferentes. Alguns dos sintomas mais comuns que uma pessoa sob estresse ou forte pressão no trabalho pode apresentar são: ansiedade, desânimo, angústia, insônia, tensão muscular, cansaço físico e mental, hipertensão e irritação. Porém, o caso se agrava quando a pessoa atinge o burnout, que é o grau mais elevado de estresse que existe. “Burnout é o nível mais devastador do estresse. Apesar do estresse ser apenas uma adaptação, ele pode sim causar doenças, e o burnout é, sem dúvidas, uma doença. Nesse grau, a pessoa se torna incapacitada para realizar o seu trabalho, mas isso não faz com que ela falte no emprego, nem nada disso. Talvez fosse melhor que ela nem fosse ao trabalho, pois ela cria diversos problemas de relacionamento, de produtividade e de qualidade, além de se tornar muito vulnerável a ter lesões. E no topo de tudo isso ela pode até perder o interesse pela vida, chegando a cometer suicídio”, alerta Ana Maria.


Quando o fator de estresse está na relação com outras pessoas, Ana Maria diz que convém lembrar que ninguém tem controle sobre o comportamento do outro, seja ele subordinado ou supervisor. Nesse caso, existe uma escolha a ser feita, conhecida como síndrome da luta ou fuga: ou prepara-se pra lidar com a situação ou para fugir dela. “Nos treinamentos de liderança que ministro, apresento os cinco fatores que causam a motivação e a felicidade no ambiente de trabalho, e a empatia como líder é uma delas. Um liderado que não consegue deixar este fator motivacional equilibrado deve aprender a “liderar para cima” e aplicar feedbacks constantes em seu líder, que proporcionem uma reavaliação comportamental para mudanças de atitudes. Grandes empresas que já utilizam este recurso constatam melhoras nos relacionamentos interpessoais de suas equipes”, completa Piovan.

Donna Smallin, autora americana de livros como Organize-se e Organize-se num Minuto, diz que em momentos críticos no trabalho, todos devem respirar. “R-E-S-P-I-R-E. E nunca leve nada para o lado pessoal. Ajuda se você também se colocar no lugar da outra pessoa; talvez muito mais pressão esteja sendo exercida sobre ela. E se você não conseguir fazer isso, invente para você motivos que justifiquem as ações dela!”

Donna ainda dá dicas para que aquele dia estressante no trabalho não seja carregado para dentro de casa: “Ouça música ou um audiobook no seu caminho para casa. Pegue o caminho mais longo para voltar, se isso for preciso para te dar tempo suficiente para se acalmar. E evite levar trabalho para fazer em casa (você provavelmente nem chegaria a fazê-lo mesmo, então deixe-o no escritório). E lembre-se sempre: amanhã é um outro dia...”, finaliza.

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