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sábado, 16 de outubro de 2010

O alimento da alma

O alimento da alma (*)
Vera Pinheiro


Do que a alma se alimenta? Daquilo que a sacia, preenche, estimula, fortalece, encoraja e sustenta. Ela se serve de uma mesa variada, com direito à entrada e sobremesa, mas o prato principal é, invariavelmente, a fé, pois sem ela nossos passos serão trôpegos e a confiança, vacilante. A inarredável e grandiosa fé no poder divino, a fé na vida e a fé em nós mesmos alicerçam os desejos e os encaminham para a realização.


A fé inabalável não elimina as dificuldades, mas nos ensina a resolvê-las; não impede os problemas, mas nos mostra as soluções; não remove os obstáculos, indica como contorná-los. Firma as ações para que elas, resolutas, tomem a direção do que queremos alcançar. Abre os caminhos e ilumina a caminhada. Dá-nos a graça de vislumbrar respostas para as dúvidas, acalma as emoções, pacifica o espírito e impregna a mente de serenidade.


Nas situações que comprimem o peito atormentado por angústia e medo é que se mede a extensão da fé e a comprovam. Quando tudo em volta deprime a esperança, a fé a agiganta. Se uma dor atravessa o dia, a fé a alivia antes que chegue a noite. Se uma preocupação se apresenta, a fé a dissolve. Isso, porém, não torna a pessoa um ente passivo, à espera de que a fé tudo resolva. Pelo contrário! Ela age, vai em frente, não se abate e não se queixa. Adquire ânimo para buscar a vitória sobre o que causa sofrimento. Conhece, então, o que é superação.


Quem tem fé não se apavora diante das circunstâncias nefastas. Domina suas reações e tem controle sobre si mesmo. Não grita. A um só tempo, fala e ouve suas palavras, certo da capacidade criadora que elas têm. Portanto, antes de proferir qualquer sílaba pede licença ao universo. Assim, cultiva o silêncio nas horas aflitivas. Enfrenta o que for preciso sem questionar se merece aquilo que lhe foi dado viver. Vive! Suplanta o desalento e não se deixa vencer pelas vicissitudes que aparecem. Em tudo vê lições e ensinamentos e descobre o bem na face aparente do mal, a alegria em meio às lágrimas e a paz onde o caos se instala. Sobretudo, crê no bem, no amor e no perdão como possibilidades de refazer a harmonia das relações humanas e do vínculo espiritual entre todos os seres.


Quem tem fé não se descontrola, permanece no equilíbrio que a fé proporciona. Mantém os pés fincados na realidade, mas confia nos sábios desígnios da providência divina, que detém todos os recursos. Não vocifera contra o destino, se não está feliz. Faz a sua parte para que a felicidade se concretize. Presta bastante atenção nos sinais que revelam recados divinais por mudança e sugestão de novas posturas, pensamentos renovados, atitudes moderadas e sem desvio dos elevados propósitos da sua existência.


Alguém que tem fé não se prostra quando as adversidades se mostram. Entrega-se em confiança aos cuidados do Pai e da Mãe que habitam no altíssimo e no interior de seu coração. A fé inunda de tamanha segurança a alma que ela se embala e adormece em braços espirituais que dão confortável aconchego, nutrem a coragem, restauram as forças e revigoram o contentamento.


Ainda que se propague também pelo testemunho de quem a vivencia em plenitude, a fé não se faz apenas por intermédio de manifestações orais. É uma vivência cotidiana que se alastra nas experiências repetitivas e nas que surpreendem pelo ineditismo, para o qual jamais estamos suficientemente preparados. Ela se demonstra nas ocasiões inesperadas e, igualmente, nas que a invocamos para que nos socorra. Ela fica quando os outros desistem e não se afasta quando somos visitados pela solidão e pelo desgosto, e nos consola. A fé se declara quando integramos plenamente os corpos físico, mental, espiritual, emocional e energético e nos tornamos ela mesma, irradiando-se no que somos e fazemos.


O ser humano pode perder muito, mas terá perdido pouco se tiver fé. Pode perder tudo, mas se manterá inteiro se tiver fé. Pode perder todos, mas não estará sozinho se tiver fé. Por isso, lamento que algumas pessoas não tenham ainda ativado esse tesouro esquecido, a sua fé. São as que choram em vez de jorrar sorrisos de gratidão. São as que ainda precisam reconhecer que tudo é bem e tudo é bom quando existe fé.


E afinal, onde, no quê e como está a tua fé? Vive-a! E serás contemplado por incomensuráveis bênçãos, daquelas que, contando, os que não têm fé não acreditam!


(*) Crônica publicada na edição de 16 e 17 de outubro de 2010 do jornal A Razão (www.arazao.com.br) de Santa Maria, RS.

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